Incomunicabilidade

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É tudo nosso e a vida não acabou

De ventos outros…

Contra a correnteza apocalíptica deste lado do mundo, que não cansava de anunciar que o fim dos tempos viria do terror do obscuro desocidente, o Oriente (re)ensina o mundo a respirar novamente, a vivê-lo. Não, não estamos diante do apocalipse. Mas um mundo está fechando os olhos enquanto outro começa a abri-los. Os ventos da primavera jasmínica estão a soprar para todos os lados.

Sopram por todos os lados, por aqui também.

Aqui no Brasil, nessa terra de muitas gentes, nesses campos plurais desbrasileirados, imperfeitos e inacabados, que subvertem o estereotipado e ilusório Made in Brazil, os espaços sociais e políticos começam a ser ressignificados.Voltamos às ruas.

Por que voltamos às ruas?

Voltamos às ruas, porque intoxicados de revolta e desejo, (re)conquistamos o sabor de lutar. Em todos os tempos, resistimos. Agora, mais uma vez, é hora de agarramos o momento e resistir mais e melhor.

Voltamos às ruas, porque a falácia neoliberal da “liberdade para ‘crescer na vida’” não nos ilude. Não queremos estar no topo, queremos estar no mundo. Por isso tomamos as ruas, por isso marchamos, por isso fazemos greves. Em contraponto à representatividade anêmica do sistema político, potencializamos a participação política direta, a construção de uma política viva, o desejo de um trabalho que não surja natimorto.

Por que marchamos?                   

Marchamos porque não temos de ter vergonha de ser mulher, gay, bombeiro, índio, professor. Marchamos porque queremos ser, porque queremos o direito de ser.

Marchamos pela Liberdade, por um Estado Livre e Laico. Marchamos porque não queremos esse desenvolvimentismo travestido de progresso. Marchamos porque não queremos rifar nossas florestas, nossas gentes, nossos rios, nossas cidades.

Marchamos porque não temos medo de dizer que Belo Monte é um crime.

Marchamos porque somos brasileiros, não caricaturas abrasileiradas. Não somos anjos nem demônios, nem ingênuos nem maquiavélicos. Não precisamos ser domados, não precisamos ser “civilizados”. Somos um Brasil que acontece. Somos Macunaíma: nem herói nem vilão, brasileiro porque desbrasileiro.

Marchamos pela alegria das multidões. Marchamos porque lutamos.

Por que fazemos greves?                 

Fazemos greves porque, cansados de construir nossa própria indignidade com suor e sangue, temos de pressionar a Grande Máquina por algum lado. Fazemos greves porque não nos contentamos com migalhas, queremos, em verdade, transformar nossos mundos.

E não venham fazer nosso cadáver dizendo que somos baderneiros ou preguiçosos. Essa história da carochinha não mais engana.

Se paralisamos, é porque queremos que as coisas funcionem, mas não de qualquer jeito. Se paralisamos, é porque queremos poder voltar a trabalhar de forma digna.

Fazemos greves porque, por dentro da greve, tecemos redes políticas vivas, de participação, de debate, de vivência. Fazemos greves porque precisamos lutar pela Educação, pela Saúde, pelo Transporte, pelas gentes: pelo operário das obras faraônicas, que transpira para construir um Brasil e é explorado pelas empreiteira$; pelos trabalhadores dos transportes, que além de sofrerem com seus salários baixos, trabalham com medo da violência; pelos profissionais da saúde que, não raro, trabalham sem as mínimas condições (faltam equipamentos, estrutura, …); pelos professores, que lutam todos os dias para dar significado à palavra Educação, apesar das feridas abertas, dos salários de fome, das escolas precárias…

Fazemos greves porque resistimos. E resistimos, a cada amanhecer, mais e melhor.

Fazemos greves porque se construímos mundos, não podemos reinventá-los?

Os Sonhadores

Não nos satisfazemos com os planos simplistas de existência que cortam a potência da vida. Queremos sonhar e fazer sonhar. Queremos que o existir tome um outro significado, se encha de vida, se desenhe à várias cores.

Nosso sonho não é perfeito, distante, irrealizável. Nutrimos o desejo de torná-lo, e o fazemos a cada dia, sem medo de errar: lutando. Queremos o sonho vivo.

É tudo nosso e a vida não acabou.

De que progresso nos falam? De que progresso falamos?

Esse progresso de linha reta, onde tudo cresce, avança, evolui, desenvolve,  já não nos parece tão brilhante aos olhos. Que tipo de progresso é esse? Por que já não mais nos apegamos às promessas do progredir vindouro? Em algum tempo, acreditamos em verdade nesse tal progresso?

O mundo respira o desejo de viver em contraponto à cordial conveniência de sobreviver. Se há um mundo velho e impotente, há outro que pulsa, que potencializa, que grita. Há um mundo que acontece por dentro e para além deste mundo fraturado. É um mundo que se indigna, que começa a tomar as ruas, a transformar os espaços, a ouvir, a falar, a insurgir, a subverter as lógicas apáticas de sistemas doentes, a articular as lutas, a fazer ressurgir o devir revolucionário.

Não cessam de acontecer, de crescer, de multiplicar, de partilhar, de fervilhar lutas mundo afora. A urgência dos rostos, mentes e corações pintam multidões cheias de cores, paixões, alegrias e revoltas. Sem dúvida, há algo acontecendo.

Para onde está indo o progresso do desenvolvimento em meio a tudo isso? O progredir tecnológico, a esperança de nos tornarmos “desenvolvidos”, o sucesso e a realização financeira já não nos motivam tanto assim? É possível falar que tudo isso está a declinar?

A verdade é que o tal progresso prometido é um tanto anêmico. É em nome dele que crimes ambientais e sociais como Belo Monte se apresentam. É em nome dele que milhares de pessoas são removidas de seus lares, das ruas e dos mercados para “dar espaço” e tornar possíveis megaeventos, obras faraônicas e especulações imobiliárias. É em nome dele que as cidades cada vez mais se tornam menos dos cidadãos e mais dos carros, shoppings e prédios. Só pode ser em nome dele que os governos – não só brasileiros – cortam gastos em áreas essenciais (saúde, educação, segurança…), mas não hesitam investir em projetos que não se fazem tão necessários às populações.

Estamos avançando para onde? O quê isso significa para nós? O que queremos afinal? Essas perguntas só podem ser respondidas se olharmos para as acampadas, para as marchas, para as manifestações, para as assembléias, para as greves, para os debates, para as lutas: a lógica do “avanço em linha reta” já não interessa, o que queremos é viver, o que importa agora é como queremos viver.

E é a partir desse “como queremos viver” que se articulam os esforços de criação e recriação, de transformação do comum, do livre, do pungente, do trabalho num sentido outro.

No fundo, não queremos esse tal progresso. Queremos a metamorfose…

Nota: Quero deixar bem claro que esse progresso de que falo nada tem a ver com o progressismo. O “progresso” do texto é o discurso que se apropria do termo “progresso” para tomá-lo como “luz para o desenvolvimento”…

Não há democracia de uma só voz: Participar é preciso

Créditos da imagem: fractalontology.wordpress.com

Se numa democracia a participação é elemento imprescindível – condição de existência –, como ainda permitir a falta de espaço, a neutralização, o corte na potência e o apequenamento da participação política e cultural do cidadão tido como comum, que não faz parte da “classe artística”, tampouco da “classe política”?

Em parte por nossa herança recente de uma ditadura cívico-militar e pela “lógica” capitalista neoliberal e em parte pela influência cotidiana de uma mídia tradicional hierárquica, possuímos inconscientemente uma consciência geral que polariza a sociedade, que demoniza a política, endeusa ícones e exclui o cidadão comum de uma participação político-cultural efetiva. Para que um dia a democracia brasileira faça justiça ao nome que carrega e torne-se real e plural, temos que desmistificar esses conceitos de coerção, manipulação e idolatria que serviram por muito tempo para desenhar uma história de censura, opressão, entorpecimento, distorção, supremacia e exclusão.

Demonizar a política talvez seja a destreza essencial para garantir o silêncio dos cidadãos. Não é preciso pensar muito para concluir que um povo desinteressado nas políticas implementadas em sua sociedade é um povo inofensivo a conjunturas produzidas para impor, controlar e iludir. Por que educar politicamente – mais que isso, criticamente – se podemos “formar” toda uma massa de analfabetos políticos que não será perigosa para nós? Daí vem a generalização de que todo político é corrupto e algo ainda mais nocivo: a ideia que a política é e/ou deve ser a ação corrupta de homens corruptos. Em outras palavras, é a limitação da política a figura do homem político. Isso engendra a típica sensação de impotência, que os que se beneficiam com a exclusividade do poder a uma determinada classe tanto desejam. Se a política é algo ruim, se se resume a figuras corruptas no poder, por qual motivo eu perderia meu tempo com política? É essa impossibilidade de saída que favorece aqueles que ganham com o desinteresse político e comodismo crônico dos cidadãos.

Ao afirmar isso, não digo que o povo brasileiro seja inofensivo ou que não deseje melhoras sociais, muito menos que seja um povo passivo. Mas é visto e tratado como se fosse desse modo. Como esperar de uma população consciência política com uma educação ainda acrítica? Como acender a vontade de uma política viva, que possa comunicar em meio a monopólios e oligopólios de informação que não se cansam alardear frivolidades e meias-verdades? Como produzir artisticamente se o “fazer arte” (que nem sempre é fazer literalmente) pertence majoritariamente a uma “classe artística”? Como acreditar numa democracia que se justifica democracia apenas através do voto em representantes e enterra constantemente outras formas de participação política?

Daí a importância da educação e da comunicação efetivamente democráticas. Para que o cidadão se comporte como sujeito-cidadão, é necessário que ele possa ser sujeito-cidadão. Numa democracia, o acesso, o compartilhamento e a produção de informação e cultura não devem ser vetados ou impossibilitados a cidadão algum. Por isso, temos hoje a urgência de uma lei de regulamentação da mídia, de uma reforma na lei dos direitos autorais, de um Plano Nacional de Banda Larga que permita a todos os cidadãos o acesso com qualidade a internet, do incentivo, manutenção e ampliação dos pontos de cultura, da implantação de bibliotecas públicas de qualidade em todas as cidades brasileiras, de uma reforma educacional que abra possibilidades para a formação dos cidadãos e transforme suas potências criativas em criações, ao invés de apenas “qualificar” o profissional para exercer determinada função, do resgate da memória e do fim do silêncio de uma história que ainda sangra com a abertura dos arquivos da ditadura cívico-militar, de mecanismos que permitam que o cidadão comum possa falar e ser ouvido.

Além de lutar, temos que criar. Como escreveu Bruno Cava, temos que tornar-se mídia. Concordo e vou além: temos que ser mídia, temos que ser artistas, temos que ser políticos, temos que ser legisladores, temos que ser militantes, temos que ser ativistas, temos que ser colaboradores, temos que ser, criar, mixar, compor, recompor, opinar, debater, discutir, pluralizar, unir, compartilhar, fazer, articular, organizar, criticar, resistir. Tornar uma democracia real possível não é tarefa acabada, não acontece do dia para noite. A democracia não é nada perfeita, é ao invés disso, plural. E é nessa confusão e pluralidade de vozes que uma democracia pode viver, porque não há democracia de uma só voz.

PNBL: O Brasil em Alta Velocidade ou Qualquer Internet é melhor que Internet alguma

O PNBL, Plano Nacional de Banda Larga, representaria um avanço primordial nos processos de democratização da comunicação se não inclinasse, no fim das contas, para mais uma política tapa-buracos. O Plano funciona como um paliativo – “medidas paliativas” não são incomuns na resolução de problemas públicos –,  já que até estende o acesso à Banda Larga por preços mais acessíveis, mas não garante a qualidade do serviço.

Nas palavras do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo:

“É melhor ter milhões reclamando da internet do que milhões sem saber como ela funciona para poder reclamar”. “Por que só eu posso reclamar da minha internet? Por que o rapaz que serve o cafezinho aqui não pode fazer isso?”

Há no discurso um tom quase messiânico, como se o que o governo estivesse fazendo fosse um favor, um ato generoso, uma bondade sem tamanho aos que não possuem condições financeiras de pagar por um “serviço de internet de qualidade”. Mas isso não é favor. Qualquer política pública – o próprio nome já diz – não deve ser vista como “presente” aos cidadãos, mas como responsabilidade para com os cidadãos.

Nessa estratégia paternalista de “vamos dar aos pobres qualquer serviço, já que sem nós eles não teriam serviço algum mesmo”, não há nada de ingênuo. O PNBL é para agradar gregos e troianos: “os cidadãos que, se não fosse pelo plano, não poderiam reclamar da sua internet” e – principalmente – as Teles.

“Quem assinar internet a partir do PNBL, que entra em vigor até 1º de outubro, vai navegar a uma velocidade de 1 Mbps (megabite por segundo), por R$ 35 mensais, e com permissão para baixar, no máximo, 300 MB (megabites) de arquivos por mês. Esse limite equivale a capturar três músicas por dia. Depois desse teto, o usuário pode continuar baixando arquivos, mas a velocidade cai.”

Sabem o que é 300mb por dia? Quem tem 3G sabe os quão “divertidos” são esses limites impostos para o download e/ou navegação. Note que não há menção no texto ao quanto a velocidade cai quando o limite é ultrapassado. Ou seja, a conexão pode variar pouco, mas também pode variar muito.

Chega até ser irônico que o slogan do PNBL seja o “Brasil em Alta Velocidade”. Não adianta propagandear, o PNBL é – desculpem-me a expressão – mais um tapa-buracos.

#Eblog, muito mais que virtual: Anticapitalista e Libertário

Quem somos

O #Eblog é um grupo de blogueir@s de esquerda, unidos ao redor das bandeiras anticapitalista, antirracismo, antihomofobia, antimachismo, feminista, ecossocialista, em defesa dos povos indígenas e quilombolas, sobretudo pelas lutas cotidianas das trabalhadoras e dos trabalhadores pela emancipação de sua classe internacionalmente, que defende uma concepção material de democracia socialista, revolucionária, de baixo para cima feita, vivida e instaurada cotidianamente pelos de baixo, isto é, que não se restrinja à democracia capitalista liberal, sua liberdade formal e seus direitos abstratos.

Progressismo ou anticapitalismo?

O #Eblog não se propõe ser uma associação orgânica de “blogueir@s de oposição ao governo” (embora conosco possam atuar opositores/as de esquerda ao atual governo), ou uma associação jornalística extraoficial, mas um agrupamento de lutadores e lutadoras que, reunid@s numa frente de lutas comuns, pretende ocupar e resistir no caminho abandonado por forças outrora de esquerda.

A atual guinada liberal-conservadora do Governo Dilma, sob o argumento da “correlação de forças”, está acometendo parte da blogosfera que se coloca no campo de esquerda, e que, recentemente, assumiu para si o adjetivo “progressista”. Não negamos o fato de que a política também se faz no jogo de forças entre as classes sociais, na chamada “correlação de forças”, mas é preciso reconhecer o momento em que essa expressão se torna um argumento universal para se responder a qualquer questionamento e se esquivar de todas as críticas políticas. É preciso construir projetos políticos capazes de ir além da consolidação de burocracias e aparelhos, que acabam ficando pra trás do movimento das forças sociais vivas de resistência e luta em geral.

Propomos, pois, lutar por alternativas a essas práticas políticas, colocando-nos sempre à disposição de ações de luta unificadas em favor de bandeiras políticas emancipatórias em comum que vão para além da defesa deste ou daquele governo, este ou aquele partido, e sim de emancipações inadiáveis e urgentes.

Pontes e limites

Não abrimos mão da impaciência e do combate a atual conciliação/colaboraçãodeclasses da qual é cúmplice e conivente uma maioria dos que se dizem progressistas, que, por sua vez, instauram o silêncio sobre questões essenciais em nome de um pragmatismo que já perdeu toda razão de ser. Sem perder o senso prático, questionamos: qual a correlação de forças que justifica o ataque à reputação d@s blogueir@s que se propõem defender as causas emancipatórias de esquerda, às quais os “progressistas” sistematicamente e sintomaticamente se omitem e se calam, desviando o assunto e por vezes desqualificando debatedores/as?

As pontes tem limites, não aguentam todas as intempéries e hoje estão em obras, sem data para terminar e com orçamentos sigilosos. O macartismo, o senso de ombudsman em defesa do Governo Dilma ou de Lula não é à toa, não é pessoal, não é só dos “blogueiros progressistas”: é comum em qualquer discussão com a maioria d@s apoiadores/as do atual governo. Infelizmente, isso não ocorre de modo isolado, pois tornou-se tática constante.

A coordenação dos autoproclamados “blogueiros progressistas” vem praticando um jornalismo tão vertical que até a forma de reagir às críticas tem seguido um corporativismo que remete às práticas da grande imprensa oligárquica. Telefonam uns para os outros e vão coordenando ataques de descrédito: deslegitimar a fonte, desviar a questão política para verdade/mentira, estabelecer o “fato” e a “verdade” como resultado de uma técnica específica, de certo efeito de discurso jornalístico. A campanha empreendida por alguns líderes do BlogProg contraIdelberAvelar, logo após o processo eleitoral de 2010, foi sintomática e exemplar nesse sentido, acabando por reproduzir o típico denuncismo da mídia oligarca sobre o “mensalão” – que, aliás, os mesmos “progressistas” criticam! A reação corporativista dos jornalistas do BlogProg às críticas políticas parece-nos entrar no mesmo modus operandi da grande imprensa – que dizem combater, chamando-os de “Partido da imprensa Golpista – PIG” em função de constantes ataques, fruto do ódio de classe elitista, contra Lula e o Partido dos Trabalhadores, ou seja, agindo como verdadeiro “PartidodaImprensaFavorávelPIF”.

Dentre muit@s que participam dos Encontros dos Blogueiros Progressistas na esperança de construir uma alternativa, sabemos que nem tod@s adotam este posicionamento, mas entendemos também que acabam, de um modo ou outro, alinhad@s e/ouconiventes com as orientações políticas hegemônicas de sua direção. Para alguns destes “blogueiros progressistas” as dissidências e/ou a oposição de esquerda frente a linha política hegemônica (simpática ao atual governo) são tratadas como “esquerda que a direita gosta”, “psolismo”, “jogo da direita” ou “ultraesquerdismo”. Inclusive, alguns dos participantes das listas de discussão dos “progressistas” ou mesmo pelo Twitter, tratam a suas próprias dissidências com sufocamento por meio de ataques virulentos e desqualificadores.

Na realidade, percebemos que os “blogueiros progressistas” não constituem uma alternativa efetiva, mas uma mera luta de hegemonia contra a grande imprensa oligarca, enquanto proclamam ser os principais porta-vozes da democracia midiática. Esta luta acaba por cair em um maniqueísmo que em nada colabora politicamente, pelo contrário: tornam rasas as análises e, consequentemente, adotam posições políticas de apoio cada vez mais acríticas, cegas e fanáticas, sempre defendendo o legado de governos e pessoas, e não as bandeiras e programas socialistas. Assim, visam tornarem-se as principais referências políticas na blogosfera brasileira. Estas práticas tem levado muitos “blogueiros progressistas” a prestarem-se ao papel de correia de transmissão das políticas da máquina partidária do atual governo, diga-se, a mais bem acabada e incorporada à institucionalidade da democracia liberal de nosso país. Portanto, parece-nos que o sonho destes blogueiros tem sido tornarem-se uma “grande imprensa”, com um público enorme, com plateia de milhares e milhares, ao invés de radicalizar a democracia na produção midiática em sua cauda longa, ou seja, na práxis cotidiana, multitudinária e concreta das lutas.

Estamos falando de um grupo de blogueiros que vem tentando construir uma certa hegemonia na blogosfera, tentando torná-la politicamente uniforme no apoio ao atual governo e adjetivando-a enquanto “militância progressista” e, por fim, ligando-a de forma indelével às políticas liberais-conservadoras deste novo petismo que vai se consolidando no e por meio do governo, que já não possui qualquer tintura de esquerda, e, por vezes pior, está ligado a um governismo pragmático que historicamente faz política de mãos dadas com a direita oligárquica e rentista.

Contestamos, pois, esta prática de considerarem-se como “a blogosfera progressista” e não como parte de uma blogosfera política muito mais antiga, ampla, diversa e de rico potencial emancipatório.

Tendo em vista estas reflexões críticas, propomo-nos a lutar para criar e fomentar alternativas a este tipo de prática na blogosfera, colocando-nossempre à disposição de ações unificadas em favor de bandeiras comuns que vão para além da defesa deste ou daquele governo, este ou aquele partido.

[Update] Continue lendo no Blog do Tsavkko

>"Computadores fazem Arte, Artistas fazem Dinheiro"

>Chico Science cantava lá pelos idos de 94, uma frase que materializa uma grande parte do produto da indústria musical: “computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro”. Science se referia à tendência mercadológica de pôr a renda na frente da produção artística, o que não é difícil de observar no mainstream.  Observando os novos caminhos que o MinC vem seguindo, esta frase surgiu de imediato em minha cabeça. De que Cultura se refere o Ministério? Da Cultura de Mercado?

Retirar a licença Creative Commons do site do Ministério da Cultura significa uma ruptura no processo de viabilização do conhecimento livre que vinha se estendendo nos últimos anos. Não é apenas uma troca de licenças, é certamente uma mudança de postura. Uma renúncia ao apoio da cultura digital coloca o novo MinC em qual direção?
Ora, se o Ministério da Cultura é a favor da democratização da cultura, deveria se posicionar para que as produções culturais e informações sobre a cultura estivessem disponíveis a todos. Isso significa a retirada e não a imposição de barreiras. Se algo é de domínio público, a difusão deve acontecer. E, como um órgão público – que deve(ria) ser para o público –, o MinC deveria viabilizar essa difusão, para que se possa alcançar um maior número de pessoas. Porém, a nova licença apresenta um MinC complicador da difusão, já que “permite a reprodução desde que creditado”, mas não se refere à publicação. Licença, no mínimo, confusa.
Afastando-se da difusão da Cultura Digital, o novo MinC se aproxima de quem? Da velha máquina do Copyright e da “lógica” do ECAD ou de uma nova alternativa para democratizar a cultura? Se há essa nova alternativa, ela não foi mostrada até o momento. O Copyright não tem mais espaço no mundo do conhecimento livre, já que ao invés de beneficiar o autor, alimenta a velha lógica do mercado. A ministra Ana de Hollanda já anunciou ser contrária a “mudanças radicais” numa possível reforma da Lei de Direitos Autorais. Lei essa, demasiado restritiva, que precisa de uma reformulação em verdade.

Os rumos que o MinC vem seguindo engendram um retrocesso e um distanciamento da democratização, da difusão do conhecimento livre. Infelizmente, é isso que se vê nos últimos tempos.

“Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro”. É lamentável que essa frase ainda continue atual.

>Bem vindo, Obama! #ObamaOutofBrazil

Mais que uma visita de um presidente. A visita do primeiro presidente negro dos Estados Unidos a terras brasileiras no governo da primeira mulher presidente do país. O Brasil, claro, receberá com muito gosto – algo maior que um simples apreço – esse visitante ilustríssimo. O alarde, então é justificável: a figura carismática – que substitui a imagem negativa do Bush –, vem trazer seus bons intentos aos países latino-americanos. Estreitamento de amizades… Ah, claro!
Simbolismos. Deve ser isso. Melhor, faces. Duas faces: uma para mostrar e outra para esconder. Esconder os interesses, mostrar o que é interessante para o público para “legitimar” comprometimentos. O que Obama traz? Novas oportunidades econômicas. Leia-se: Interesse em exportações e no Pré-Sal. Epa, o que os Estados Unidos têm a ver com o Pré-Sal? Não me pergunte. Hillary Clinton pôs isso em outras palavras: “Obama vai anunciar no Brasil novas oportunidades econômicas e novos caminhos para trabalharmos juntos em energia, inovação e educação”. Para quem isso trará benefícios? Por certo, não ao povo brasileiro. Energia, Inovação e Educação… A situação já não é das melhores, imagine se…
A outra face, para mostrar o que é interessante, é o que vemos na TV. É o que constrói e se propõe legitimar a figura de Obama como ícone. Sob esta ótica, ele não é um político, é uma celebridade. Todos querem falar, mandar mensagens, fotografar, ver discurso… Afinal, é o presidente dos States! Googleando, não é difícil se deparar com um anúncio publicitário: Dê Boas Vindas ao Presidente Online e Faça Parte Dessa Visita Histórica”*. Vocês não acham que já tem gente demais se preocupando com o que ele vai comer ou deixar de comer?!
Um ponto que merece ser ressaltado, que não é particular a essa visita, que ocorre todas as vezes que alguém “importante” pisa em solo brasileiro: A gigantesca mobilização. O país se transforma nesses eventos. Nesse intervalo, teremos Forças Armadas, um grande contingente policial, limpeza urbana, vias isoladas para o livre trânsito. Tudo para o Obama, claro. É inimaginável que isso ocorra em tempos cotidianos. Quando tudo acabar e ele voltar para casa, tudo volta ao normal: insegurança, lixo nas ruas, trânsito caótico. Tudo volta ao normal?
*Após acabar o texto, verifiquei que já havia passado de 10 mil o número de mensagens de boas vindas ao Obama enviadas por brasileiros… Nossa!
*2.  Através do Twitter, fiquei sabendo da repressão aos ativistas que manifestavam contra a vinda do Obama. Liberdade de expressão? Democracia? Onde?!
*3. Tem uma galera dando as felicitações pela visita, é só procurar a hashtag #ObamaOutofBrazil no twitter…
*4. Tudo perfeitinho na capital do país enquanto o Obama estiver por lá. Mas na realidade… Não há Simples Solução para o Caos (Inferno de Dandi).

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